Há alguns dias um amigo querido me enviou sobre carreiras e futuro profissional, achei muito interessante e decidi ler para o meu filho, que está no terceiro ano do ensino médio. Quando terminei a leitura ele me disse: “– Mãe, fala tudo isso para os meus professores.”
Fiquei surpresa e pensei bastante sobre a resposta do meu filho, sobre o futuro das profissões e a forma como temos encarado os avanços tecnológicos e a nova expectativa de vida mais longa.
Decidi então pedir autorização para o meu amigo para publicar o texto como uma forma de contribuir para que mais pessoas possam refletir sobre as mesmas questões.
Autorização recebida, deixo abaixo o texto na íntegra.
Boa leitura, beijos da Pê!
Reflexões sobre o futuro dos alunos e o Vestibular!
Todos nós de alguma forma já escutamos ou estamos cientes de que com os avanços tecnológicos, o enorme desemprego e a longevidade humana; o mercado de trabalho e o futuro universo profissional de nossos jovens se tornam cada vez mais desafiadores! Diferente de outros tempos, um diploma tradicional de uma boa universidade pública, uma pós graduação e um ou dois idiomas no CV já não garantem mais um bom começo de carreira como antes. Imagine então daqui a 5 ou 10 anos.
Em um universo escolar muito focado e restrito ao Enem e Vestibular onde quase tudo são pontos, simulados e rankings, acabamos deixando de pensar e refletir de que muito mais importante do que ser aprovado em um exame, nossos jovens deveriam, antes de tudo, entender melhor sua vocação, suas qualidades e como poderiam se desenvolver e destacar para um futuro mais promissor. Passar em uma boa universidade não parece ser um portal para o sucesso garantido.
Em um país com mais de 13 milhões de desempregados e considerando-se ainda o impacto que a tecnologia irá gerar no mundo do trabalho, todos são categóricos em dizer, que cada vez mais o que se recomenda é que o profissional do futuro encontre algo em que possa se destacar, que desenvolva suas habilidades comportamentais (soft skills), que crie seu diferencial e sem dúvida o caminho mais fácil é encontrar e trabalhar sua vocação. O pior caminho talvez seja passar em um vestibular disputadíssimo e descobrir, anos depois, que não era bem aquilo que queria e assim passar a maior parte da sua vida arrependido, depressivo ou mesmo torcendo para chegar logo o próximo final de semana.
Pensando em um processo seletivo ou entrevista de emprego, dificilmente alguém irá pedir um histórico escolar mas, por outro lado, já é comum que perguntem quais os hobbies, se pratica algum esporte, se já fez um intercâmbio ou mesmo se toca algum instrumento ou fez teatro. Isso demonstra ser um sinal claro que há uma competição cada vez mais real com as máquinas e inteligência artificial.
O futuro profissional precisa saber aproveitar as vantagens de ser um Humano, afinal de contas qualquer celular já sabe muito mais “conteúdo decorado” que todos nós. Afinal de contas por que contratar um jovem ao invés de desenvolver um novo software? Em um exemplo real, uma multinacional de consultoria tinha 2 potenciais trainees com currículo muito similar, boa universidade pública, MBA e idioma Inglês, porém um deles colocou que tocava violino, e essa foi a diferença. Quem será que foi contratado e por qual razão? O que o violino exige e demonstra que um vestibular não mostra?
Aprofundando ainda mais esse assunto, e ainda refletindo a demanda do mundo real, hoje as melhores universidades Americanas já consideram notas médias, histórico escolar e o vestibular local (SAT) apenas 55% do peso em seus processos de admissão. Os outros 45% dizem muito mais sobre quem é você, recomendações, suas habilidades individuais e o que pretende ser. Ou seja, obviamente notas e conteúdo acadêmico são muito importantes mas é também essencial saber quem é você, suas reais habilidades, o que te diferencia e o que pretende ser.
Tudo acima até parece fazer sentido, mas que caminho seguir em uma cultura totalmente focada na sonhada aprovação em uma carreira disputada no vestibular? Um dos caminhos indicados é apoiar e investir mais no autoconhecimento, nas atividades extra curriculares, no diálogo e, sobretudo, refletir um pouco mais e ter claro que o deveria ser mais importante saber sobre a(s) carreira(s) que deseja seguir e por quê? Ao invés de só focar em simulados, rankings e no vestibular.
Desde que não se esqueçam a parte acadêmica (ainda essencial) , não é porque os filhos não querem largar a escolinha de futebol, o Ballet, o violão, a natação, o teatro ou as aulas de desenho que eles terão menos chance no vestibular e consequentemente menos chance no futuro mercado de trabalho; talvez sejam essas horas e habilidades individuais desenvolvidas que o ajudem mais do que um simples diploma daquela disputada vaga na universidade pública.
Fica o meu convite para pensarmos juntos.
(Fred Daher)
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